Renda média no Brasil cai abaixo de R$ 1 mil pela 1ª vez em 10 anos

 

Em comparação de Pesquisa da FGV Social, observa-se também um forte aumento da raiva, tristeza, estresse e preocupação do brasileiro, em relação a antes da pandemia. Estes índices subjetivos também são muito maiores que de outros 40 países.

No trimestre de janeiro a março de 2021, a renda média caiu 11,3% em relação ao mesmo período de 2020 e vai para o ponto mais baixo da série histórica de R$ 995, primeira vez abaixo de um mil reais mensais. Os dados de aumento da desigualdade e queda na renda dos brasileiros integram a pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, divulgada nesta segunda-feira (14) pelo centro de estudos FGV Social. O levantamento considera estatísticas desde 2012.

A pesquisa “A Escalada da Desigualdade”, lançada em agosto de 2019, revelou que o Brasil vivia a alta mais demorada da desigualdade de renda do trabalho nas séries históricas. Foram 17 trimestres consecutivos de alta quando comparados ao mesmo período do ano anterior. Seis meses depois a pandemia do Covid-19 chega ao país.

A análise da FGV atribui o aumento da desigualdade e queda na renda a consequências da pandemia. No entanto é preciso observar uma série de políticas públicas que afetaram esses índices desde 2015, culminando com o fim da política de valorização do salário mínimo acima da inflação, assim como a reforma trabalhista e a redução do acesso à previdência.

O próprio relatório diz que “há coincidência temporal do ápice de renda média com o mínimo da desigualdade em 2014.T4. Como resultado desta conjunção de fatores o pico de bem-estar se situa neste mesmo instante”. É preciso lembrar, inclusive, que este período de “pico de bem-estar” coincide com as mobilizações em defesa do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Desde então, como diz o relatório, o bem-estar social caiu continuamente.

O salto na desigualdade é medido pelo Índice de Gini. Na escala de Gini, zero significa igualdade de renda. Quanto mais próximo de um, maior é a desigualdade. Na prática, uma alta no indicador sinaliza piora nas condições socioeconômicas.

O índice de Gini de 0,642 no primeiro trimestre de 2020, aumentou mais de três centésimos dos 0,610 observado no mesmo período de 2015. A literatura considera este movimento um grande salto de desigualdade. A pandemia adiciona mais três centésimos levando até 0.674 no primeiro trimestre de 2021, recorde nas séries históricas.

“Na metade mais pobre observamos importância similar do efeito desocupação explicando mais de 80% da queda de renda de 20,89% deste grupo. O efeito desemprego domina com 8.95 pontos de porcentagem e a redução da participação no mercado de trabalho contribui com 7,89 pontos de porcentagem. Em suma, a perda de ocupação (desemprego e participação trabalhista) foi o principal responsável pela queda de poder de compra médio dos brasileiros”, explica o relatório da pesquisa, assinado pelo economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social.

Neri conclui seu relatório dizendo que “indicadores objetivos de performance trabalhista como desigualdade, média e bem-estar, baseados em renda per capita do trabalho, apresentam queda inédita na pandemia. Indicadores subjetivos como felicidade apresentaram queda maior na base da distribuição de renda. Na comparação do Brasil com a média de 40 outros países, observamos perda relativa de felicidade brasileira como em todos os cinco outros indicadores subjetivos de emoções cotidianas estudados”.

Como Neri parte do pressuposto simplista de que a pandemia é a principal influência sobre os índices ruins, ele acredita que, superada a pandemia, os índices devem melhorar significativamente. Há economistas, no entanto, que recusam esta perspectiva, considerando que não há qualquer indicativo de planejamento do governo para uma recuperação da economia, simplesmente pela retomada plena da atividade econômica. Além da precariedade trabalhista e nível de desemprego que já vinha de antes da pandemia, amplos setores foram atingidos pelo distanciamento social forçado, que não voltarão após a pandemia. Também não há sinais vindos do governo de amplo investimento público ou estímulo ao consumo interno.

Felicidade e raiva

Os péssimos indicadores de questões subjetivas, como raiva, triste e preocupação, mencionadas no relatório, foram comparados baseados em pesquisa periódica do Instituto Gallup World Poll com 40 outros países de níveis de desenvolvimento diversos.

Na análise do pesquisador, sentimentos de raiva, preocupação, estresse, tristeza e divertimento são úteis para avaliar este momento de pandemia.

Por exemplo, a raiva dos brasileiros com 15 anos ou mais sobe de 19% em 2019 para 24% em 2020. Isso significa uma mudança de 5 pontos de porcentagem, enquanto no mundo este avanço foi de 0,8% pontos percentuais. Ou seja, aumenta 4,2 pontos percentuais a mais no Brasil durante a pandemia que no resto do mundo.

Similarmente, a preocupação sobe 3,6 pontos percentuais a mais no Brasil; estresse sobe 2,9 pontos percentuais a mais no Brasil; tristeza sobe 2.2 pontos percentuais a mais no Brasil. E, finalmente, divertimento que é uma emoção positiva cai 6,8 pontos percentuais a mais no Brasil. “Em suma, todos os indicadores subjetivos cotidianos de bem-estar considerados pioraram mais no Brasil na pandemia que a média dos 40 demais países”.

(Por Cezar Xavier)

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